terça-feira, 29 de maio de 2012

OS MODELOS DE GOVERNO ECLESIÁSTICO, SUAS VANTAGENS E DIFICULDADES PRÁTICAS



Sinteticamente podemos dizer que existem três formas de Governo Eclesiástico. Provavelmente sua igreja é governada por uma delas. São elas:


a) a) Episcopal: Essa forma de governo é caracterizada por ter um "Líder Maior", geralmente chamado de Epíscopo, Papa, Bispo, Pastor Presidente e até Apóstolo, que governa todos os outros líderes e demais membros da igreja. É ele quem toma todas as decisões. Ou seja, “Um” governa a “Todos” (Igreja Episcopal, Universal, Católica, Assembléia de Deus e a maioria das igreja neopentecostais);


b) b) Congregacional – A principal característica dessa forma de governo eclesiástico é a participação de toda a congregação na tomada de decisões. Nada é decidido sem que antes tenha a aprovação da Assembléia de membros da igreja. Ou seja, "Todos" governam (Igreja Batista, Congregacional etc.);


c) Presbiterial ou representativo – Nesse Regime de governo"Alguns" são eleitos para governar a "Todos" (Igreja Presbiteriana).

Cremos ser a última forma de governo eclesiástico (letra c) a que mais se aproxima do modelo bíblico. É o governo do povo por meio de representantes por ele escolhido; um governo republicano. Calvino, em sua interpretação das Escrituras sobre esse assunto, considera também ser o governo representativo aquele que foi ensinado pelos apóstolos para a organização da Igreja de Cristo. Na Bíblia, podemos encontrar facilmente os princípios norteadores e constituintes dessa forma de governo eclesiástico: Atos. 11: 30; 14: 23; 15: 2, 4, 6, 22; Tito 1: 5.

Apesar do exposto acima, nossa intenção é demonstrar, de forma prática, despretensiosa e sem a (talvez) necessária preocupação hermenêutica, os pontos positivos e negativos de cada forma de governo eclesiástico. Contudo, principalmente em relação à forma de governo que entendemos ser a mais aproximada do modelo bíblico, os pontos negativos, não estão, necessariamente, relacionados à falhas do próprio sistema de governo e sim daqueles que o adotam. Mas que elas existem, existem. Comecemos na mesma ordem:

Governo Episcopal:

Pontos positivos: Esse talvez seja o modelo de governo que dê mais agilidade à igreja. Tudo só depende da aprovação de uma pessoa. Por exemplo: a reforma do prédio do departamento infantil da igreja. O Epíscopo decide fazer, quem vai fazer e o que vai ser feito. Tudo é resolvido de forma rápida e ágil. A igreja é muito beneficiada neste sentido. Os casos de disciplina eclesiástica também são rapidamente resolvidos trazendo a devida ordem à comunidade.

Pontos negativos: É desnecessário dizer que a concentração de poder na mão de uma única pessoa é algo muito perigoso. Os erros desse Epíscopo podem desviar para sempre sua igreja e como não há uma autoridade superior ninguém pode impedir essa derrocada. As escolhas das prioridades, dos materiais e das pessoas a serem contratadas podem ter critérios não muito corretos, em caso de desvio de conduta pessoal do Epíscopo e não haverá ninguém para lhe dizer um basta. Nos casos de injustiças na aplicação da disciplina eclesiástica o membro da igreja ficará sempre prejudicado, não tendo a quem recorrer. Esse modelo também dá margem a perseguições de possíveis oponentes, ainda que esses estejam com a razão, bem como a beneficiamento e falta de disciplina para aliados. Todos esses problemas são decorrentes do poder absoluto que o Epíscopo ou líder tem.

Governo Congregacional:
Pontos positivos: Uma das principais vantagens dessa forma de governo eclesiástico é que ninguém pode reclamar por não ter sido consultado ou ainda ouvido. Todos os membros têm direito a voto e a opinar sobre os mais diversos da igreja. Usando o mesmo exemplo da a reforma do prédio do departamento infantil da igreja, todos podem opinar sobre a necessidade dessa reforma, sobre as pessoas a serem contratadas e até sobre o material a ser utilizado. Ninguém pode dizer depois que não sabia ou que não foi ouvido. Isso acaba diminuindo bastante o grau de insatisfação da cumunidade.

Pontos negativos: Em qualquer igreja há pessoas maduras e pessoas imaturas. Essa é uma das maiores dificuldades desse regime de governo eclesiástico. Num caso de disciplina eclesiástica, por exemplo, além do constrangimento do membro faltoso ser apresentado diante de toda a congregação, ainda corre gravíssimo risco de ter sua situação emocional e espiritual agravada por conta das perguntas e das abordagens dos possíveis desafetos e dos membros que ainda não sabem lhe dar com esse tipo de situação. É algo realmente extremamente constrangedor. A morosidade na tomada de decisão também é um fator complicador, tendo em vista que depende da quantidade de membros presentes e da votação da maioria para aprovar um projeto. Diante disso, muitas igrejas Batistas, por exemplo, estão assumindo uma prática que descaracteriza por completo o regime congregacional: estão criando uma espécie de conselho para tratar de alguns assuntos antes mesmo de ser levado à assembléia dos membros, não sendo raras as vezes quando chegam com a decisão tomada esperando apenas a aprovação de todos.

Governo Presbiterial ou Representativo:
Pontos positivos: Esse regime de governo eclesiástico está tanto livre dos perigos que se apresentam quando o poder está concentrado nas mãos apenas de uma pessoa quanto da participação e decisão de pessoas imaturas que ainda não estão em condições de traças os rumos da igreja. Ele pressupõe que os homens mais preparados da igreja são eleitos por todos os membros, em assembléia extraordinária, para governá-la. A igreja é autônoma e livre para escolher seus representantes, baseada nas condições pré-estabelecidas na bíblia para a ordenação de um presbítero. O conselho da igreja, em casos de disciplina eclesiástica, via de regras, tem condições de tratar o faltoso e aplicar-lhe a pena necessária para trazê-lo de volta aos caminhos da palavra de Deus. Em caso de disciplina aplicada fora dos preceitos bíblicos ou ainda por alguma espécie de perseguição, o membro que se sentir prejudicado poderá apelar para o "tribunal eclesiástico" imediatamente superior (geralmente são três instâncias superiores de apelação). Isso diminui bastante a possibilidade das injustiças e erros.


Pontos negativos: Como a congregação não participa das decisões de forma ativa, isso acaba dando margem para críticas às decisões do conselho.Outro ponto negativo é a morosidade com que os processos se desenrolam. Utilizando o mesmo exemplo da reforma do prédio do departamento infantil da igreja, uma obra que poderia ser relativamente rápida pode durar duas ou três vezes mais tempo para ser concluída. Começando pela discussão de como será feita a obra, os materiais utilizados e quem vai executá-la até a disposição da verba para a realização dos projetos. Em muitas vezes decisões como essas não saem antes de duas ou três reuniões do conselho. A própria dificuldade de reunião dos presbíteros atrasa muitos processos necessários ao bom andamento da igreja. Os presbíteros não são obreiros exclusivos da igreja, todos têm seus trabalhos seculares, famílias e dificuldades particulares. Além disso, o pastor, que é também é um presbítero (docente) e que, geralmente, se dedica em tempo integral à igreja (pelo menos deveria), não pode tomar decisões sozinho. Basta faltar um número considerável de presbíteros (geralmente cada igreja possui de 02 a 10 presbíteros) para a reunião não acontecer. Isso gera muito atraso nos projetos da igreja, dando, muitas vezes, uma impressão de desgoverno e abandono da igreja, uma vez que somente esses presbíteros podem decidir os rumos a serem tomados e não o fazem, muitas vezes, com a agilidade necessária.

Outra dificuldade prática desse sistema de governo é que nem sempre são eleitos presbíteros homens conhecedores da palavra e das doutrinas basilares ensinadas pela Igreja Presbiteriana. Geralmente são oficiais leigos, isto é, sem formação teológica alguma. Mas esse não é o maior problema. Isso não impediria desse oficial estudar e conhecer a bíblia e as principais sistematizações doutrinárias de sua igreja, como, aliás, muitos fazem. Outros tantos, porém, não se interessam pelo estudo doutrinário, assumindo a postura do senso comem que afirma ser "importante a bíblia e não teologia", esquecendo que qualquer afirmação acerca da bíblia é, necessariamente, uma interpretação teológica. Por conta disso, muitas igrejas Presbiterianas locais acabam se descaracterizando, e, com isso, tornando-se mais parecidas com muitas igrejas neorenovadas e neopentecostais que com uma genuína igreja Presbiteriana, propriamente dita. Além disso, essa falta de conhecimento dos presbíteros torna esses oficiais presas fáceis para pastores que parecem ter vocação para o governo episcopal e simpatia por práticas neopentecostais. Muitas desses pastores acabam manipulando os presbíteros, não raras as vezes, em benefício próprio. Não é interessante, para muitos pastores, a presença no conselho de presbíteros conhecedores da bíblia, dos símbolos de fé e da constituição da igreja. Por conta disso, o governo presbiteriano, de algumas igrejas locais, fica extremamente prejudicado, estando mais próximo a um governo episcopal, onde tudo é decidido pelo pastor, que presbiterial. Outras vezes, para fugir das possíveis críticas, alguns conselhos, por pura falta de conhecimento, acabam levando assuntos que seriam de sua exclusiva competência, para a igreja, em assembléia, se pronunciar e até votar decidindo sobre o fato, igualmente descaracterizando o sistema de governo representativo.

Postado por Filósofo Calvinista

quarta-feira, 16 de maio de 2012

COMECE O DIA EM ORAÇÃO


Comece o Dia em Oração


















Por Edward M. Bounds
Os homens que mais fizeram
para Deus neste mundo dobravam cedo seus joelhos. Aquele que joga fora o início
da manhã, sua oportunidade e frescor, perseguindo outras coisas ao invés de
buscar a Deus fará pobre progresso no sentido de buscá-lo o resto do dia. Se
Deus não é o primeiro em nossos pensamentos e esforços pela manhã, Ele estará em
último lugar no resto do dia. Por trás do levantar cedo e cedo orar está o
desejo ardente que nos preme no propósito de buscar a Deus. O sono profundo
pela manhã é indício de um coração em sono profundo. O coração que é tardo em
buscar a Deus pela manhã perdeu seu prazer por Deus. O coração de Davi ardia
por buscar a Deus. Ele tinha fome e sede de Deus, e por isso ele buscou a Deus
cedo, antes da luz do dia. A cama e o sono não puderam encarcerar sua alma em
sua ânsia por Deus. Cristo almejou comunhão com o Pai; e por isso levantava-se
muito antes que fosse dia, e ia ao monte orar. Os discípulos, quando
completamente despertos e envergonhados de sua indolência, sabiam onde
encontrá-lo. Nós poderíamos seguir a lista dos homens que impactaram
poderosamente o mundo para Deus, e iríamos encontrá-los buscando-o logo cedo.
Um desejo por Deus que não
quebra as cadeias do sono é algo fraco e fará muito pouco por Ele depois que tiver
satisfeito completamente a si mesmo. O desejo por Deus que mantém a distância
tanto o diabo quanto o mundo no início do dia nunca será escravizado. Não é
simplesmente o levantar que põe os homens à frente e os faz capitães nas hostes
de Deus, mas é o desejo ardente que os instiga e quebra todas as cadeias da
auto-indulgência. Mas o levantar-se traz alento, aumento, e força ao desejo. Se
eles estivessem deitados na cama agradando a si mesmos, o desejo teria se
extinguido. O desejo é o que os desperta e os faz curvar-se perante Deus, e
isto atendendo e agindo em resposta à sua fé; aproximam-se de Deus e seus
corações recebem a mais doce e completa revelação dEle; e esta força de fé e
abundância de revelação os faz santos por eminência, e o halo de sua santidade
chega a nós, e entramos no gozo de suas conquistas. Nos deleitamos com isto,
mas não o executamos. Nós construímos suas tumbas e escrevemos seus epitáfios,
mas não cuidamos em seguir seus exemplos. Precisamos de uma geração de
pregadores que busque a Deus e o busque cedo, que dê o frescor e o orvalho dos
esforços a Deus, e assegure de volta o frescor e a abundância do Seu poder; que
Deus possa ser para eles como o orvalho, pleno de alegria e força, através de
todo o calor e labor do dia. Nossa preguiça por Deus é nosso lamentável pecado.
Os filhos deste mundo são mais sábios do que nós. Eles estão nisto cedo e
tarde. Nós não buscamos a Deus com ardor e diligência. Nenhum homem busca a
Deus e não o segue firme, e nenhuma alma que o segue firme não o busca cedo
pela manhã.

Edward Bounds McKendree foi preparado para ser advogado,
mas em vez de seguir a carreira jurídica, entrou para o ministério com vinte e
poucos anos. Em 1859 ele foi ordenado como pastor da Igreja Metodista
Monticello em Missouri. Bounds foi capelão no exército confederado durante a
Guerra Civil Americana. Ele foi capturado pelo Exército da União, em Franklin,
Tennessee, e mais tarde libertado. Após a sua libertação, ele se esforçou para
reconstruir o estado espiritual de Franklin, iniciando sessões semanais de
oração. Bounds foi editor adjunto do jornal oficial Metodista, o Advogado
Cristão, e é mais conhecido por se inúmeros livros sobre o tema da oração. Como a respiração
é uma realidade física para nós, a oração era uma realidade vital para Bounds

Postado por Anderson Queiroz
Fonte: A Pena Afiada

quarta-feira, 9 de maio de 2012

DÉBORA, MÃE EM ISRAEL


“... até que eu, Débora, me levantei, levantei-me por mãe em Israel” (Jz 5.7).

Josivaldo de França Pereira


Quando eu era criança costumava folhear um antigo livro de meu pai chamado O Ensino da Palavra que me ajudou bastante no entendimento da Bíblia na infância. Foi nele que pela primeira vez li o nome da “heroína chamada mãe em Israel”. Indo à Bíblia encontrei a história completa.
A Bíblia introduz a história de Débora assim: “Débora, profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo. Ela atendia debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ela a juízo” (Jz 4.4,5).
O nome “mãe em Israel” é uma designação dada por Débora a si mesma (Jz 5.7). Por que Débora se autodenominou “mãe em Israel”? Lendo os capítulos 4 e 5 do livro dos Juizes facilmente descobrimos.
A profetisa de Israel. O primeiro ofício de Débora registrado na Bíblia é o de profeta. Débora, Miriã (Ex 15.20; Nm 12.2) e Hulda (2Cr 34.22) são as principais profetisas do Antigo Testamento. E foi investida da autoridade de profeta que “Mandou ela chamar a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes de Naftali, e disse-lhe: Porventura, o SENHOR, Deus de Israel, não deu ordem, dizendo: Vai, e leva gente ao monte Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom? E farei ir a ti para o ribeiro Quisom a Sísera, comandante do exército de Jabim, com os seus carros e as suas tropas; e o darei nas tuas mãos” (Jz 4.6,7). Débora não negociava princípios. Ela era uma mulher temente a Deus, sábia, dotada de discernimento e espiritualidade.
A juíza de Israel. Débora é a única mulher a ocupar o ofício de juiz na Bíblia. Ela “julgava a Israel naquele tempo” (Jz 4.4), isto é, época em que o povo se encontrava sob a servidão de Jabim, rei de Canaã, por volta do ano 1125 a.C. “Ela atendia debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ela a juízo” (Jz 4.5).[1] Seu papel era mais de uma conselheira do que de uma magistrada dos tempos modernos, a quem o povo trazia seus problemas. A consulta dos filhos de Israel se dava principalmente por causa de Jabim que “por vinte anos oprimia duramente os filhos de Israel” (Jz 4.3); razão porque Débora cobrou Baraque por não cumprir a ordem de Deus. Alguns estudiosos associam o carisma de Débora ao fato dela ser profetisa. Na verdade, o carisma de Débora era estar sempre pronta para atender os filhos de Israel, não num palácio, mas debaixo de uma árvore.
A comandante de Israel. Quem deveria organizar o povo e guerrear contra Sísera, comandante do exército de Jabim, era Baraque. Mesmo com a promessa de Deus da vitória sobre Sísera (Jz 4.7) parece que Baraque estava com muito medo, pois Jabim tinha novecentos carros de ferro e muito povo com ele (Jz 4.3,13). Baraque disse a Débora que só lutaria se ela fosse com ele (Jz 4.8). “Ela respondeu: Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com Baraque para Quedes” (Jz 4.9). No limiar da batalha a voz de comando de Débora surge mais uma vez: “Então, disse Débora a Baraque: Dispõe-te, porque este é o dia em que o SENHOR entregou a Sísera nas tuas mãos; porventura, o SENHOR não saiu adiante de ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil homens, após ele” (Jz 4.14). Débora entrou para a história como a mulher que ganhou vitórias na batalha. Baraque, por sua vez, como o general que recusou dirigir o exército sem a presença duma mulher.
A cantora de Israel. O cântico de Débora, entoado por ela e Baraque (Jz 5), é um belíssimo hino de exaltação ao Senhor pela vitória sobre o exército de Sísera e libertação dos filhos de Israel da opressão de Jabim, rei de Canaã (cf. Jz 4.15). F. F. Bruce divide o cântico de Débora em oito seções: um exórdio de louvor (vv2,3); a invocação de Yahweh vv4,5); a desolação sob os opressores (vv6-8); o ajuntamento das tribos (vv9-18); a batalha de Quisom (vv19-23); a morte de Sísera (vv24-27); a descrição da mãe de Sísera a esperar pela sua volta (vv28-30); e o epílogo (v31).[2] “É pelo cântico”, diz Bruce, “e não tanto pela narrativa em prosa do quarto capítulo do livro, que aprendemos sobre o que provocou precisamente a derrota de Sísera: um enorme temporal de chuva fez transbordar o Quisom, e varreu as carruagens dos cananeus (v21), lançando seu exército na confusão e tornando-o presa fácil para os homens de Baraque”.[3]
Débora foi uma verdadeira mãe em e para Israel. Seu nome significa “abelha”, contudo, sua “ferroada” foi contra os inimigos do povo de Deus que a procurava para alívio das duras opressões. Os filhos de Israel sofriam por seus próprios pecados (Jz 4.1,2), mas nem por isso Débora deixou de interceder em favor deles, como a doçura do mel de abelha.
A vida de Débora tem servido de inspiração para muitos nos dias de hoje, como é o caso do ministério Desperta Débora. Quem são as Déboras dos nossos dias? São, segundo esse ministério, mães intercessoras, biológicas, adotivas ou espirituais, de qualquer denominação, comprometidas a orar diariamente por seus filhos e pela juventude, por no mínimo 15 minutos diários. Hoje já são mais de 70.000 mães cadastradas em todo o território brasileiro e até no exterior. A liderança do Desperta Débora é composta por mais de 1.500 coordenadoras locais de cidades, de estados, regionais e nacional.[4]
Débora se levantou como mãe para defender Israel - sua nação. Em Juizes 5.12 ela desafia a si mesma dizendo: "Desperta, Débora, desperta...”.



[1] Não devemos confundir essa passagem (Jz 4.5) com Gênesis 35.8, onde uma outra Débora foi sepultada debaixo de uma árvore em Betel.    
[2] F. F. Bruce, Débora. In: O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2003, p. 396.
[3] Ibidem.
[4] Fonte: www.despertadebora.com.br. Acesso em 28/09/2011.

domingo, 6 de maio de 2012

AS ORIGENS DO PRESBITERATO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL




Por Alderi Souza de Matos

O objetivo deste artigo é, inicialmente, fazer algumas breves considerações sobre o presbiterato na Bíblia e no movimento reformado. Em seguida, descreve-se como surgiu esse ofício nas primeiras igrejas presbiterianas do Brasil e nos primeiros concílios da nova denominação, até a criação do Sínodo, em 1888. Por fim, são fornecidos alguns dados sobre presbíteros que se destacaram no período inicial dahistória do presbiterianismo brasileiro.


1. O presbiterato bíblico e reformado

Os primórdios do presbiterato são muito antigos na tradição judaico-cristã. Os primeiros presbíteros foram os anciãos, mencionados muitas vezes no Antigo Testamento a começar da época do Êxodo. Eram os representantes do povo, sendo por isso mesmo denominados “anciãos de Israel” (Êx 3.16), “anciãos do povo” (Êx 19.7) e “anciãos da congregação” (Lv 4.15). Eles exerciam importantes funções de liderança e participaram dos eventos mais significativos da história de Israel, sendo escolhidos por sua sabedoria, maturidade e discernimento. Deviam proteger o povo, exercer disciplina, fazer cumprir a lei de Deus e administrar a justiça. Esses anciãos judeus serviram de modelo para os presbíteros cristãos.

As primeiras igrejas do Novo Testamento logo começaram a ser governadas por presbíteros eleitos pelas comunidades. No livro de Atos dos Apóstolos, nós os vemos administrando recursos materiais, julgando questões doutrinárias e resolvendo conflitos. Atos 14.23 é a primeira passagem que fala sobre a instituição do presbiterato em igrejas locais. Fica claro que o apóstolo Paulo seguia essa prática nas igrejas que estavam sob sua responsabilidade (Tt 1.5). Na valiosa passagem de Atos 20.17-35, os presbíteros são instruídos acerca do significado e das atribuições do seu nobre ofício. A grande relevância do presbiterato cristão também é ressaltada em textos como 1 Timóteo 3.1-7 e 1 Pedro 5.1-4.

A Reforma Protestante restaurou o presbiterato cristão ao seu modelo bíblico original. Isso aconteceu de modo especial na Reforma Suíça ou Movimento Reformado, cujos líderes iniciais foram Ulrico Zuínglio e João Calvino. No princípio, os presbíteros tinham funções quase que exclusivamente disciplinares, mas aos poucos surgiu um entendimento mais abrangente do seu ofício, para incluir responsabilidades administrativas e pastorais. Influenciado pelo colega mais velho Martin Bucer, Calvino propôs quatro tipos de oficiais para as igrejas reformadas: pastores, mestres, presbíteros e diáconos. Com pequenas diferenças, esse modelo (com os pastores concentrando também a função de mestres) foi adotado por todas as igrejas reformadas através da Europa, principalmente na França, Holanda e Escócia.

Forma de Governo Eclesiástico Presbiterial (1645), um dos documentos aprovados pela Assembléia de Westminster, declarou o seguinte: “Como havia na igreja judaica anciãos do povo unidos aos sacerdotes e aos levitas no governo da igreja, assim Cristo, que instituiu o governo e líderes na igreja, supriu alguns em sua igreja, alémdos ministros da Palavra, com dons de governo e com o encargo de exercê-los quando para isso chamados, os quais devem associar-se ao ministro no governo daigreja, oficiais esses que as igrejas reformadas geralmente denominam presbíteros”. Ver também a Confissão de Fé de Westminster, 31.1. As igrejas presbiterianas norte-americanas adotaram desde o início o presbiterato, levando-o para os países onde realizaram trabalho missionário, como o Brasil. Ao criar-se o Sínodo da IgrejaPresbiteriana do Brasil (1888), foi adotado o Livro de Ordem da Igreja do Sul dosEstados Unidos (PCUS), com sua forte ênfase no ofício presbiterial.


2. Os presbíteros das igrejas pioneiras

Levou algum tempo para que os presbíteros começassem a ocupar o seu devido lugar na estrutura da igreja presbiteriana brasileira. Na fase de implantação do presbiterianismo nacional, as necessidades da obra missionária fizeram com que as primeiras igrejas fossem organizadas ao serem recebidos os primeiros membros, ficando para mais tarde a eleição de oficiais. Foi o que aconteceu com a primeira comunidade presbiteriana em solo pátrio, a Igreja do Rio de Janeiro, organizada por Ashbel Green Simonton em 12 de janeiro de 1862, com apenas dois membros. Os primeiros oficiais somente foram eleitos quatro anos mais tarde, em 1866. No dia 2 de abril daquele ano houve a eleição de três diáconos e em 7 de julho, de dois presbíteros: o irlandês William Richard Esher (†1901), que havia freqüentado aIgreja Evangélica Fluminense (congregacional), e o português Pedro Perestrello daCâmara (1839-1937), primo do futuro Rev. Modesto Carvalhosa. A ordenação ocorreu dois dias depois, em 9 de julho, surgindo assim a Sessão ou Conselho. Esses foram os primeiros presbíteros regentes da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Passaram-se oito anos antes que a igreja elegesse novos presbíteros – Dr. Miguel Vieira Ferreira e Cândido Joaquim de Mesquita. Isso ocorreu no dia 17 de setembro de 1874, poucos meses após a inauguração do templo da Travessa da Barreira. A ordenação solene foi realizada no dia 4 de outubro, permitindo o reinício das atividades da Sessão. Desde essa época até o centenário da igreja, em 1962, o Conselho reuniu-se mais de 1620 vezes. Em 14 de janeiro de 1875, foram eleitos outros dois presbíteros, João Batista Gomes Garcia e Antônio da Cunha Vasconcelos, que foram ordenados em 7 de fevereiro. Nova eleição de presbíteros ocorreu em 13 de outubro de 1881, sendo escolhidos José de Azevedo Granja, Manuel José Ferreira e William Gore Baker. Os próximos presbíteros a serem eleitos foram Júlio de  Oliveira (1887), Dr. Francisco Barreto e João Braga (1892), Jorge Frederico Baker e João Cardoso (1896). No longo pastorado do Rev. Álvaro Reis (1897-1925), aumentou consideravelmente o número de presbíteros da igreja-mãe.

Em 1867, um ano após a eleição dos primeiros oficiais no Rio de Janeiro, a Igreja de São Paulo, organizada em 5 de março de 1865, também passou a ter o seu primeiro presbítero, o inglês William Dreaton Pitt (1828-1870). Ele havia sido o primeiro colaborador do pioneiro congregacional, Robert Reid Kalley, no Rio de Janeiro, bem como um dos membros fundadores da Igreja Evangélica Fluminense (1858) e um dosprimeiros presbíteros dessa igreja (1862). Indo para São Paulo, tornou-se grande auxiliar do Rev. Alexander Latimer Blackford, sendo eleito presbítero da igrejapaulista no dia 15 de dezembro de 1867 e ordenado no dia 22, três dias antes davolta de Blackford para o Rio de Janeiro, onde foi substituir Simonton, falecido recentemente. No final de 1868, Pitt foi residir em Itaqueri, nas proximidades de Brotas, onde se dedicou ao trabalho evangelístico. Foi ordenado pastor em 16 de agosto de 1869, durante a 5ª reunião do presbitério, mas faleceu seis meses mais tarde, em 13 de março de 1870, com apenas 42 anos de idade. Pitt foi o primeiro presbítero regente a alcançar o ministério na história da IPB.

Com a saída de Pitt, a Igreja de São Paulo ficou sem presbítero por doze anos! Finalmente, no dia 3 de outubro de 1880 foi eleito para o presbiterato o diácono Manoel José Rodrigues da Costa, ordenado em 9 de janeiro seguinte. Manoel daCosta exerceu esse ofício com dedicação e competência por muitos anos. Manoel daPaixão foi eleito em 23 de março de 1884 e ordenado em 13 de abril. No dia 2 de maio de 1886, foram eleitos Remígio de Cerqueira Leite e Isidro Bueno de Camargo, que haviam sido diáconos (foram ordenados no dia 25 do mesmo mês). Outro antigo presbítero da Igreja de São Paulo foi o médico Dr. Nicolau Soares do Couto Esher (1867-1943), filho do primeiro presbítero da Igreja do Rio. A Igreja de Brotas, a terceira comunidade presbiteriana em solo brasileiro, elegeu os seus primeiros presbíteros em 1875, dez anos após a organização. Foram eles Joaquim José de Gouvêa e Henrique Gomes de Oliveira. No ano seguinte foi eleito Manoel Pereira de Toledo Magalhães. Os primeiros presbíteros da Igreja Unida de São Paulo foram Augustus Farnham Shaw, André Jensen e Francisco Palmiro Ruggeri (1900); em seguida, Antônio Gomes da Silva Rodrigues (1901) e Dr. Eliézer dos Santos Saraiva (1903).


3. Os primeiros concílios

Quando foi organizado o primeiro concílio da IPB, o Presbitério do Rio de Janeiro, no dia 16 de dezembro de 1865, não houve a presença de presbíteros. Somente na 4ª reunião do presbitério, realizada em São Paulo nos dias 5 a 8 de agosto de 1868, esteve presente o único presbítero da capital paulista – William D. Pitt. Essa foi a primeira vez na história da IPB em que um presbítero tomou assento em um concílio. Por vários anos, o presbitério voltou a reunir-se somente com pastores. Em agosto de 1875, na 11ª reunião presbiterial, realizada em Rio Claro, compareceu o presbítero Belisário Correia Leite, da Igreja de Borda da Mata, em Minas Gerais. Na 12ª reunião (1876), no Rio de Janeiro, esteve presente o Dr. Miguel Vieira Ferreira,da Igreja do Rio, e na 13ª reunião (1877), na mesma cidade, João Batista Gomes Garcia, também da igreja-mãe. Na 14ª reunião (1878), em São Paulo, compareceram onze pastores e apenas um presbítero, Cândido Joaquim de Mesquita, do Rio de Janeiro, candidato ao ministério. Na 15ª reunião (1879), no Rio de Janeiro, novamente compareceu o presbítero Garcia, da capital do Império.

Na reunião de 1880, realizada em São Paulo, estiveram presentes um presbítero de Rio Claro (Severino José de Gouvêa) os três de Brotas, sendo um titular e dois correspondentes (Henrique Gomes de Oliveira, Joaquim José de Gouvêa e Manuel Pereira de Toledo Magalhães). Na reunião de 1881, tomaram assento Manoel daCosta (São Paulo), Manuel Pereira de Toledo Magalhães (agora de Lençóis) e Henrique Gomes (Brotas); na reunião de 1883, José de Azevedo Granja (Rio), Manoelda Costa (São Paulo) e João Antunes de Moura (Itapeva). Na reunião de 1884 aumentou a representação de presbíteros: Manoel da Paixão (São Paulo), Henrique Gomes (Brotas), João Antunes de Moura (Itapeva), João Batista de Aguiar (Sorocaba) e Herculano de Gouvêa (Rio Claro). Na reunião de 1885, em Sorocaba, estiveram Francisco Rodrigues Pacheco (Sorocaba), Manoel da Costa (São Paulo), José Rodrigues de Carvalho (Itapeva) e Francisco de Paula Rodrigues (Lençóis); na reunião de 1886, José de Azevedo Granja (Rio), Domingos Roque (Campos) e Francisco de Assis Dias (Cabo Verde); na reunião de 1887, Manoel da Costa (São Paulo), Antônio de Pádua Dias (Cabo Verde), Manuel Ribeiro dos Santos (Rio Claro), Francisco Rodrigues Pacheco (Sorocaba), João David Muzel (Guareí), João Antunes de Moura (Itapeva) e João Vieira Bizarro (São Carlos).

Ao criar-se o antigo Presbitério de São Paulo, de curta existência (1872-1877), ligado à Igreja do Sul dos Estados Unidos (PCUS), participaram, além de quatro missionários, dois presbíteros norte-americanos: William P. McFadden (Santa Bárbara) e James McFadden Gaston (Campinas). O Dr. Gaston era médico e clinicou em Campinas por vários anos. Foi sogro dos Revs. Alexander Blackford e John B. Kolb. Poucos presbíteros participaram da organização de três presbitérios surgidos em 1888: do Presbitério de Pernambuco, William Calvin Porter; do Presbitério de Minas, Flamínio Augusto Rodrigues e João Vieira Bizarro; do Presbitério de São Paulo, Manoel da Costa. Quando foi organizado o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil (1888), no Rio de Janeiro, compareceram os presbíteros Manoel da Costa (São Paulo), José de Azevedo Granja (Rio de Janeiro), João da Mata Coelho (Cruzeiro), William Calvin Porter (Recife), José Antônio de Lemos (Itatiba), Antônio da Silva Rangel (Mogi-Mirim) e Flamínio Rodrigues (Campinas), este último tendo como suplente Álvaro Reis.


4. Alguns presbíteros destacados

Obviamente, foram muitos os presbíteros que deram contribuições relevantes nos primeiros tempos do presbiterianismo no Brasil. A título de exemplo, vale mencionar os seguintes. Minervino Ribeiro Pessoa Lins (1841-1931) foi membro fundador e primeiro presbítero da Igreja da Paraíba (João Pessoa), organizada em 1884; foi o primeiro presbítero a ser moderador de um presbitério (Presbitério de Pernambuco, 1896). João Antunes de Moura (1849-1928) era presbítero em Itapeva, no sul de São Paulo, e teve participação ativa nos concílios da igreja nacional. Joaquim Honório Pinheiro (1852-1934) era oriundo da Igreja de Brotas e foi presbítero em Dois Córregos e São Paulo; atuou como tesoureiro das Missões Nacionais e prestou muitos serviços à igreja. João da Silva Dourado (1854-1927) foi presbítero no interiorda Bahia, na cidade que hoje tem o seu nome. Tertuliano Goulart (1855-1939) foi jornalista e presbítero em Araguari, no Triângulo Mineiro. José Custódio da Veiga (1861-1954), de Nepomuceno, foi um dos primeiros presbíteros do sul de Minas.

Jorge Frederico Baker (1862-1949) foi o esteio da obra presbiteriana em Niterói. Willis Roberto Banks (1864-1942) foi o pioneiro do presbiterianismo no vale do Ribeira, em São Paulo. Joaquim Ribeiro dos Santos (1865-1954) foi grande amigo e auxiliar dos pastores e missionários, e prestou muitos serviços às causas da igreja. Myron August Clark (1866-1920) tornou-se presbítero da Igreja do Riachuelo, no Rio de Janeiro; trouxe para o Brasil a Associação Cristã de Moços (ACM). Guilherme Klopffleisch (1867-1955), nascido na Alemanha, auxiliou a obra presbiteriana no Paraná. Eliézer dos Santos Saraiva (1879-1944), da Igreja Unida de São Paulo, foi grande entusiasta da Escola Dominical e do Esforço Cristão. Gustavo Dias de Assumpção (1881-1923) serviu como tesoureiro da Igreja Presbiteriana do Brasil. Também é importante lembrar que vários antigos presbíteros se tornaram pastores: William D. Pitt (1869), Álvaro Reis (1889), William Calvin Porter (1889), João Vieira Bizarro (1891), Herculano de Gouvêa (1891), Flamínio Augusto Rodrigues (1893) e José de Azevedo Granja (1897), entre outros.


Conclusão

Deste levantamento conclui-se como tem sido relevante o presbiterato à luz das Escrituras e da história do cristianismo. Importante no Antigo e no Novo Testamento, esse ofício foi altamente valorizado pela Reforma e pela tradição reformada. No Brasil, após uma demora inicial, motivada pelas circunstâncias do período pioneiro, os presbíteros progressivamente ocuparam uma posição de grande destaque na estrutura da Igreja Presbiteriana. Esperamos que, motivados por essa história e pelos exemplos desses valorosos servos do passado, os presbíteros atuais se sintam ainda mais motivados e incentivados a exerceram fielmente o elevado encargo para o qual Deus os vocacionou.

sábado, 5 de maio de 2012

A ORIGEM DO OFÍCIO DE DIÁCONO


A definição do ofício de diácono

O substantivo diácono procede da palavra grega diakonós. Esta palavra ocorre 29 vezes no Novo Testamento, podendo significar:[1]
a)servo Mt 20:26; 22:13; Mc 9:35
b)garçom Jo 2:5,9
c)ministro Rm 13:4
d)auxiliar 2 Co 6:4; Ef 6:21; Cl 1:23,25; 1 Tm 4:6
e)oficial Fp 1:1; 1 Tm 3:8,12

O lexicógrafo J.H. Thayer define esta palavra como “aquele que executa as ordens de outro como um servo, atendente, ou ministro.”[2] Noutro lugar ele nos fornece outra definição mais completa como sendo “aquele que em virtude do ofício designado pela igreja, auxilia aos pobres, recebendo e distribuindo o dinheiro, que para este fim é coletado.”[3] Todavia, esta definição segue a prática da Igreja em seus primeiros séculos. A estrutura da nossa denominação embora não negue a responsabilidade do diaconato de exercer a assistência social, não recomenda nem estimula o seu manuseio financeiro deixando este para o Conselho. A definição de Thayer demonstra alguma deficiência e limitação do ofício do diácono.

Notemos ainda que, segundo William D. Mounce o verbo grego diakonéwsignifica “atender, cuidar, servir Mt 8:15; Mc 1:31; Lc 4:39; [...] ministrar, ajudar, dar assistência ou suplicar pelo indispensável à vida, providenciar os meios para se viver Mt 4:11; Mt 27:55; Mc 1:13; Mc 15:41; Lc 8:3.”[4] Esta definição é preferível por mostrar-se mais satisfatória as necessidades da Igreja.

A origem dos diáconos no Novo Testamento

Encontramos a narrativa histórica da origem do diaconato em At 6:1-6. Alguns estudiosos, entretanto, negam que esta passagem se refira à origem do ofício, alegando o fato de não haver menção da palavra “diácono” no texto. Todavia, podemos crer que esta passagem seja a narrativa da instituição do diaconato levando em consideração os seguintes argumentos que Louis Berkhof apresenta:
1. O nome diakonoi que, antes do evento narrado em Atos 6, era sempre empregado no sentido geral de servo ou servidor, subseqüentemente começou a ser empregado como designativo daqueles que se dedicavam às obras de misericórdia e caridade, e, com o tempo, veio a ser usado exclusivamente neste sentido. A única razão que se pode atribuir a isto acha-se em Atos 6.
2. Os sete homens ali mencionados foram encarregados da tarefa de distribuir bem as dádivas trazidas para as agapae (festas de amor cristão), ministério que noutras partes é particularmente descrito pela palavra diakonia, At 11:29; m 12:7; 2 Co 8:4; 9:1,12-13; Ap 2:19.
3. Os requisitos para o ofício, como são mencionados em Atos 6, são muitos exigentes, e nesse aspecto, concordam com as exigências mencionadas em 1 Tm 3:8-10. (4) Muito pouco se pode dizer em favor da acariciada idéia de alguns críticos de que o diaconato só foi desenvolvido mais tarde, mais ou menos na época do aparecimento do ofício episcopal.[5]

A tradição cristã reconheceu nesta decisão apostólica a origem do diaconato:
1. Irineu de Lião (130-200 d.C.) em seu livro “Contra as Heresias” 1:26; 3:12; 4:15.
2. Cipriano (200-258 d.C.) em suas “Epístolas” 3:3.
3. Eusébio de Cesaréia (260-340 d.C.) declara em sua “História Eclesiástica” que ali “foram igualmente destacados pelos apóstolos, com oração e imposição de mãos, homens aprovados para o ofício de diáconos, para o serviço público”.[6]

Mesmo numa leitura artificial da passagem de At 6:1-6 é possível verificar um problema de omissão na “mesa das viúvas dos gentios”. Esta omissão certamente não era proposital, pois os apóstolos sendo apenas “os doze” não podiam suprir todos os novos convertidos no ministério de ensino da Palavra de Deus, e ao mesmo tempo “servindo as mesas”. Há pelo menos quatro motivos que podemos enumerar para a instituição do diaconato:
1. Para evitar a desordem nos relacionamentos da Igreja. Surgia o grave problema da murmuração.
2. Para evitar que houvesse partidos dentro da Igreja. A omissão às mesas das viúvas enfatizava as diferenças entre o grupo dos judeus helênicos e judeus palestinos.
3. Para evitar a injustiça na distribuição de alimentos e donativos aos necessitados.
4. Para que os mestres da Palavra sejam dedicados no ensino da mesma. É importante observarmos que os apóstolos não estavam rejeitando o “servir às mesas das viúvas”. John R. W. Stott faz uma importante contribuição ao entendimento deste assunto ao dizer que “não há aqui nenhuma sugestão de que os apóstolos considerassem a obra social inferior à obra pastoral, ou de que a achassem pouco digna para eles. Era apenas uma questão de chamado. Eles não poderiam ser desviados de sua tarefa prioritária”.[7]

Charles R. Erdman sugere algumas idéias sobre a necessidade do diaconato na Igreja Cristã. Vejamos que:
(1) É dever óbvio da Igreja, em toda parte, provar às necessidades dos seus membros.
(2) Essa provisão exige clarividência e cautela, para que os que mais precisam não sejam omitidos.
(3) A administração de tais socorros precisa incluir contato e simpatia pessoais. Não é coisa que se deva fazer mecanicamente, ou porque seja praxe. São socorros que devem resultar em conforto espiritual e, se possível, devem levar as pessoas a ficar em condições de poder dispensá-los mais adiante.
(4) Esse trabalho requer a designação de oficiais especializados. “O ministro” deve ser desembaraçado das particularidades que cercam o levantamento e a aplicação de dinheiro entre os membros de sua Igreja.
(5) Ao ministro se deve permitir que se empregue seu tempo no estudo, na prédica e na oração.
(6) O socorro dos pobres, ou seja a assistência social, de qualquer que seja a natureza, jamais deve tomar o lugar do esforço evangelístico.
(7) Na Igreja todos os seus oficiais são “ministros” ou “servos”, na verdadeira acepção do termo; não são dominadores. E qualquer que seja a forma do serviço, devem procurar fazer dele um meio de testemunhar de Cristo, o que aliás vem sugerido nos episódios de Estevão e Filipe, dois diáconos cujo testemunho constitui uma parte significativa da história que se segue imediatamente.[8]

Notas:
[1] F.W. Gingrich & F.W. Danker, Léxico do N.T. Grego/Português (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1993), p. 53
[2] J.H. Thayer, Thayer’s Greek-English Lexicon of the New Testament(Grand Rapids, Associeted Publishers and Authors Inc., 1889), p. 138
[3] Ibidem.
[4] William D. Mounce, The Analytical Lexicon to the Greek New Testament(Grand Rapids, Zondervam Publishing House, 1992), p. 138
[5] Louis Berkhof, Teologia Sistemática (Campinas, LPC, 1990), p. 591.
[6] Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica (Rio de Janeiro, CPAD, 1999), Livro 2. Cap. 1, p. 47
[7] John W.R. Stott, A Mensagem de Atos (São Paulo, Ed. ABU, 1994), p. 134
[8] Charles R. Erdman, Atos dos Apóstolos (São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1960), pp. 58-59

Rev Ewerton B. Tokashiki

BÍBLIA COMO REVELAÇÃO DE DEUS



Escrito por H. Henry Meeter


Deus possui outro livro além da criação: a Bíblia. No princípio existia somente um livro, uma só revelação de Deus: a natureza. E no mundo vindouro de novo não haverá mais do que um livro: a nova natureza, na qual o homem verá a Deus e a sua vontade revelada. Os redimidos na eternidade, do mesmo que Adão, terão clara revelação da vontade de Deus em seus corações e da natureza que os cerca, e não terão, consequentemente, nenhuma necessidade de uma revelação especial como é a Bíblia.

Há um fato que explica o motivo da necessidade deste segundo livro: a Bíblia, ou revelação especial de Deus; este livro foi necessário por causa do pecado. Quando o homem caiu, tanto ele como a natureza mudou. A mente do homem chegou a entenebrecer-se de tal maneira, que não era capaz de ver as coisas tal como eram; e a natureza se viu alterada como parece deduzir-se da expressão: “produzirá também cardos e abrolhos” que encontramos no livro de Gênesis (Gn 3:18). Contudo, ainda hoje a natureza é um espelho em que se reflete a glória de Deus. Todavia, por causa do pecado pode-se dizer que este espelho esteja deformado. Como é sabido, um espelho torto reflete as coisas de uma forma grotesca e diferente de como realmente são. Como pode o homem agora com sua mente entenebrecida e numa natureza transtornada, descobrir a Deus de modo correto, ou chegar a conhecer a sua verdadeira natureza e propósito de sua existência? Estas se tornam as três perguntas fundamentais que o calvinista terá presente em sua cosmovisão.

Sob tais condições como pode o homem obter uma concepção adequada da realidade? A única solução seria se Deus desse outro livro: a Bíblia. Na Bíblia Deus revela ao homem de uma maneira clara e infalível a verdade sobre estes problemas, iluminando ao mesmo tempo com a luz do Espírito Santo a sua mente entenebrecida para que seja capaz de compreender as verdades bíblicas. Assim, podemos ver a relação que existe entre a Bíblia e o livro da natureza. A Bíblia não está no mesmo nível da natureza como revelação de Deus, senão que é um corretivo das ideias deformadas que possa dar-nos a natureza em seu estado decaído. Apresenta-nos uma revelação sobre Deus e o universo que a natureza não pode proporcionar de maneira adequada. Como disse Calvino, devemos olhar para a natureza através das lentes da Bíblia. Assim, pois, ainda que duas sejam as revelações que Deus deu as suas criaturas, a Bíblia constitui a máxima autoridade para uma cosmovisão. O cristão para interpretar corretamente a natureza e o mundo circundante necessita do enfoque bíblico.

Todavia, a Bíblia é mais do que um mero intérprete da natureza, já que ela contém uma revelação especial para a salvação do pecador. Esta informação tão importante não pode vir da natureza pela simples razão de que a natureza foi criada antes que se abrisse um caminho de salvação aos pecadores. Assim, como poderia a natureza informar-nos sobre isto? Contudo, ainda que a salvação do homem é na realidade o tema central da Bíblia, esta revelação está estreitamente vinculada a visão geral do universo e da vida humana.

Interpretaríamos mal o propósito da Bíblia se crêssemos que se trata de um mero livro de texto sobre diferentes conhecimentos. Não se trata disto. O estudante nos diferentes campos de investigação – natureza, história, psicologia, etc. – acumula evidência. Quando procede a interpretação ou de organizar esta evidência e a relacionar as verdades de alguma ciência em particular numa estrutura geral de conhecimentos, necessitará de interpretação unificadora das Escrituras. Não podemos ter uma concepção correta de Deus, do universo, do homem, ou da história sem a Bíblia.

Consequentemente, este livro além de mostrar-nos o caminho da salvação nos proporciona aqueles princípios que condicionarão toda a nossa vida, incluindo os nossos pensamentos e a nossa conduta moral. Não somente a ciência e a arte, senão que também a nossa vida familiar, os nossos negócios, os nossos problemas políticos e sociais devem estar processados e estruturados à luz e direção das verdades da Escritura.

Isto é assim, inclusive na filosofia. Pode-se supor que pelo fato da filosofia ser a ciência dos princípios, então que a filosofia cristã em última instância terá que fundamentar-se na razão e, tratará de todos os problemas da filosofia sobre uma base puramente racionalista, desprezando a Bíblia como autoridade final. Mas ainda aqui o calvinista não fundamenta a sua aceitação das verdades bíblicas em sua filosofia, pelo contrário, inicia com as verdades básicas da Bíblia para fundamentar a filosofia. A sua filosofia se fundamenta especificamente sobre a revelação. Da mesma maneira que todos os sistemas filosóficos partem de pressuposições básicas não provadas – hipóteses – assim, o cristão parte das verdades da revelação como pressupostos básicos. O proceder do calvinista não consiste em fundamentar a Bíblia na filosofia, senão que estrutura a sua filosofia cristã sobre a Bíblia.

Os princípios de fé e conduta que a Bíblia contém, do mesmo modo que as verdades do caminho da salvação surgem dentro de um contexto histórico vinculado aos acontecimentos dos homens e das nações. Consequentemente não se pode esperar que tudo o que a Bíblia ensina tenha o mesmo valor, e possa ser considerado como norma da vida para nossa conduta. Ela menciona alguns atos que na realidade são totalmente contrários a uma norma da vida padrão como, por exemplo, quando Absalão traiu de forma vergonhosa a seu pai Davi. Outras porções da Escritura contêm normas que não são para todas as épocas, senão que uma vigência específica num período ou ocasião determinada. Assim, Calvino nota que várias das leis civis de Moisés não eram para o nosso tempo, senão que encerram uma significação meramente transitória. Contudo, a Bíblia nos apresenta diretrizes básicas, ou princípios eternos à luz dos quais julga os atos históricos que contém, e nos insta a que também moldemos as nossas vidas. Estes princípios eternos se encontram não somente no Novo como também no Antigo Testamento.

Extraído de H. Henry Meeter, La Iglesia y el Estado (Grand Rapids, TELL, 1963), pp. 27-30.

AS FUNÇÕES DOS PRESBÍTEROS


As funções atribuídas aos presbíteros aqui descritas não são exaustivas. Elas mencionam o que o presbítero deve ser e fazer, mas ele não pode se limitar a elas. Todos os presbíteros devem exercer o seu ofício em conformidade com a diversidade dos dons de cada um, e discernindo segundo a necessidade da Igreja. A vitalidade da igreja muito depende da operosidade dos presbíteros.

Uma palavra grega usada para se referir ao ofício de presbítero éepiscopos. Sabemos que “o uso no N.T., em referência aos líderes, parece ser menos técnica do que uma tradução como ‘bispo’ sugeriria; daí, superintendente, ou supervisor At 20:28; Fp 1:1; 1 Tm 3:2; Tt 1:7.”[1] O presbítero tem a responsabilidade de supervisionar a igreja que o escolheu para ser o seu líder. Louis Berkhof afirma que “claramente se vê que estes oficiais detinham a superintendência do rebanho que fora entregue aos seus cuidados. Eles tinham que abastecê-lo, governá-lo e protegê-lo, como sendo a própria família de Deus.”[2]

A responsabilidade dos presbíteros de supervisão não se limita aos membros da igreja. Os presbíteros devem supervisionar o seu pastor. R.B. Kuiper observa que "um dos seus mais solenes deveres é vigiar a vida e o trabalho do pastor. Se o pastor não leva uma vida exemplar os presbíteros regentes da igreja devem chamar-lhe a atenção, e corrigi-lo. Se não é tão diligente em sua obra pastoral como deveria sê-lo, devem estimulá-lo para que tenha maior zelo. Se a falta de paixão que deve caracterizar a pregação da Palavra de Deus, os presbíteros regentes devem dar os passos necessários para ajudá-lo a superar tal defeito. E, se a pregação do pastor, em qualquer assunto de maior ou menor importância, não está de acordo com a Escritura, os presbíteros não devem descansar até que o mal tenha sido resolvido." [3] Entretanto, os presbíteros devem oferecer liberdade e recursos para que o seu pastor desenvolva-se e possa oferecer mais ao rebanho.

A autoridade do presbíteroA autoridade dos governadores é puramente ministerial e declarativa. Cada função do Conselho, como o ensino, a admoestação, governo e o exercício da disciplina, devem fundamentar-se na Palavra de Deus. Os presbíteros não possuem autoridade inerente. Não possuem o direito de impor as suas opiniões pessoais, preferências, filosofias sobre o culto, a doutrina, ou o governo da igreja, antes, devem examinar e extrair das Escrituras os padrões e princípios estabelecidos por Deus.

A autoridade do presbítero procede de:
1. A autoridade de Cristo como cabeça da Igreja.
2. Submissão à Cristo como o Senhor da Igreja.
3. A obediência e fidelidade à Escritura Sagrada como única regra de fé e prática.
4. Uma vida de santidade pessoal e familiar.
5. O exercício responsável da sua vocação e dos seus dons segundo o seu chamado.

As funções pastorais
1. Visitar os membros menos assíduos às reuniões da igreja;
2. Resolver os desentendimentos entre os membros;
3. Instar os disciplinados ao sincero arrependimento;
4. Orar por/com todas as famílias da igreja;
5. Consolar os aflitos e necessitados;
6. Supervisionar o bom andamento das atividades da igreja;
7. Exortar aos pais que tragam os seus filhos ao batismo;
8. Ser um pacificador em assuntos controversos;
9. Lembrar aos membros da sua fidelidade com os dízimos e ofertas;
10. Dar assistência e/ou liderar as congregações (quando houver);
11. Auxiliar na distribuição da Ceia do Senhor.

As funções doutrinárias
Os presbíteros em nosso sistema de governo têm a responsabilidade de guardarem a doutrina da corrupção. (1 Tm 3:16; Tt 2:7-8). Entretanto, para isto é necessário:
1. Conhecer o sistema e doutrinas presbiterianas;
2. Zelar pela fidelidade e pureza doutrinária da igreja;
3. Avaliar a qualificação doutrinária do pastor;
4. Examinar os candidatos ao rol de membros da igreja;
5. Discernir os novos “movimentos” que os membros estejam se envolvendo;

As funções administrativas (indivíduo)
1. Representar as necessidades dos membros nas reuniões do Conselho;
2. Zelar para que as decisões do Conselho sejam cumpridas pela igreja;
3. Lembrar os membros dos seus deveres e privilégios;
4. Acompanhar o funcionamento das sociedades e ministérios da igreja;
5. Elaborar propostas e projetos para a edificação da igreja.

As funções administrativas (concílio)
1. Reunir periodicamente para decidir sobre o bem estar da igreja;
2. Divulgar na igreja local as decisões dos concílios superiores (presbitérios, sínodo, SC);
3. Avaliar candidatos ao batismo e profissão de fé;
4. Participar na aplicação da disciplina bíblica para que atinja a sua finalidade;
5. Analisar se a Junta Diaconal está realizando as suas atribuições;
6. Acompanhar o bom andamento das sociedades internas e ministérios da igreja;
7. Avaliar para o envio ao presbitério os candidatos ao sagrado ministério pastoral;
8. Participar da ordenação e instalação de novos pastores e presbíteros;
9. Representar a igreja local nos concílios superiores.

Notas:
[1] F. Wilbur Gingrich & F.W. Danker, Léxico do N.T. Grego/Português (São Paulo, Ed. Vida Nova, 1993), p. 83.
[2] Louis Berkhof, Teologia Sistemática (Campinas, LPC, 1990), p. 590.
[3] R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo (Michigan, T.E.L.L., 1985), p. 132.

Rev. Ewerton B. Tokashiki
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