quarta-feira, 9 de maio de 2012

DÉBORA, MÃE EM ISRAEL


“... até que eu, Débora, me levantei, levantei-me por mãe em Israel” (Jz 5.7).

Josivaldo de França Pereira


Quando eu era criança costumava folhear um antigo livro de meu pai chamado O Ensino da Palavra que me ajudou bastante no entendimento da Bíblia na infância. Foi nele que pela primeira vez li o nome da “heroína chamada mãe em Israel”. Indo à Bíblia encontrei a história completa.
A Bíblia introduz a história de Débora assim: “Débora, profetisa, mulher de Lapidote, julgava a Israel naquele tempo. Ela atendia debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ela a juízo” (Jz 4.4,5).
O nome “mãe em Israel” é uma designação dada por Débora a si mesma (Jz 5.7). Por que Débora se autodenominou “mãe em Israel”? Lendo os capítulos 4 e 5 do livro dos Juizes facilmente descobrimos.
A profetisa de Israel. O primeiro ofício de Débora registrado na Bíblia é o de profeta. Débora, Miriã (Ex 15.20; Nm 12.2) e Hulda (2Cr 34.22) são as principais profetisas do Antigo Testamento. E foi investida da autoridade de profeta que “Mandou ela chamar a Baraque, filho de Abinoão, de Quedes de Naftali, e disse-lhe: Porventura, o SENHOR, Deus de Israel, não deu ordem, dizendo: Vai, e leva gente ao monte Tabor, e toma contigo dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom? E farei ir a ti para o ribeiro Quisom a Sísera, comandante do exército de Jabim, com os seus carros e as suas tropas; e o darei nas tuas mãos” (Jz 4.6,7). Débora não negociava princípios. Ela era uma mulher temente a Deus, sábia, dotada de discernimento e espiritualidade.
A juíza de Israel. Débora é a única mulher a ocupar o ofício de juiz na Bíblia. Ela “julgava a Israel naquele tempo” (Jz 4.4), isto é, época em que o povo se encontrava sob a servidão de Jabim, rei de Canaã, por volta do ano 1125 a.C. “Ela atendia debaixo da palmeira de Débora, entre Ramá e Betel, na região montanhosa de Efraim; e os filhos de Israel subiam a ela a juízo” (Jz 4.5).[1] Seu papel era mais de uma conselheira do que de uma magistrada dos tempos modernos, a quem o povo trazia seus problemas. A consulta dos filhos de Israel se dava principalmente por causa de Jabim que “por vinte anos oprimia duramente os filhos de Israel” (Jz 4.3); razão porque Débora cobrou Baraque por não cumprir a ordem de Deus. Alguns estudiosos associam o carisma de Débora ao fato dela ser profetisa. Na verdade, o carisma de Débora era estar sempre pronta para atender os filhos de Israel, não num palácio, mas debaixo de uma árvore.
A comandante de Israel. Quem deveria organizar o povo e guerrear contra Sísera, comandante do exército de Jabim, era Baraque. Mesmo com a promessa de Deus da vitória sobre Sísera (Jz 4.7) parece que Baraque estava com muito medo, pois Jabim tinha novecentos carros de ferro e muito povo com ele (Jz 4.3,13). Baraque disse a Débora que só lutaria se ela fosse com ele (Jz 4.8). “Ela respondeu: Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida que empreendes; pois às mãos de uma mulher o SENHOR entregará a Sísera. E saiu Débora e se foi com Baraque para Quedes” (Jz 4.9). No limiar da batalha a voz de comando de Débora surge mais uma vez: “Então, disse Débora a Baraque: Dispõe-te, porque este é o dia em que o SENHOR entregou a Sísera nas tuas mãos; porventura, o SENHOR não saiu adiante de ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil homens, após ele” (Jz 4.14). Débora entrou para a história como a mulher que ganhou vitórias na batalha. Baraque, por sua vez, como o general que recusou dirigir o exército sem a presença duma mulher.
A cantora de Israel. O cântico de Débora, entoado por ela e Baraque (Jz 5), é um belíssimo hino de exaltação ao Senhor pela vitória sobre o exército de Sísera e libertação dos filhos de Israel da opressão de Jabim, rei de Canaã (cf. Jz 4.15). F. F. Bruce divide o cântico de Débora em oito seções: um exórdio de louvor (vv2,3); a invocação de Yahweh vv4,5); a desolação sob os opressores (vv6-8); o ajuntamento das tribos (vv9-18); a batalha de Quisom (vv19-23); a morte de Sísera (vv24-27); a descrição da mãe de Sísera a esperar pela sua volta (vv28-30); e o epílogo (v31).[2] “É pelo cântico”, diz Bruce, “e não tanto pela narrativa em prosa do quarto capítulo do livro, que aprendemos sobre o que provocou precisamente a derrota de Sísera: um enorme temporal de chuva fez transbordar o Quisom, e varreu as carruagens dos cananeus (v21), lançando seu exército na confusão e tornando-o presa fácil para os homens de Baraque”.[3]
Débora foi uma verdadeira mãe em e para Israel. Seu nome significa “abelha”, contudo, sua “ferroada” foi contra os inimigos do povo de Deus que a procurava para alívio das duras opressões. Os filhos de Israel sofriam por seus próprios pecados (Jz 4.1,2), mas nem por isso Débora deixou de interceder em favor deles, como a doçura do mel de abelha.
A vida de Débora tem servido de inspiração para muitos nos dias de hoje, como é o caso do ministério Desperta Débora. Quem são as Déboras dos nossos dias? São, segundo esse ministério, mães intercessoras, biológicas, adotivas ou espirituais, de qualquer denominação, comprometidas a orar diariamente por seus filhos e pela juventude, por no mínimo 15 minutos diários. Hoje já são mais de 70.000 mães cadastradas em todo o território brasileiro e até no exterior. A liderança do Desperta Débora é composta por mais de 1.500 coordenadoras locais de cidades, de estados, regionais e nacional.[4]
Débora se levantou como mãe para defender Israel - sua nação. Em Juizes 5.12 ela desafia a si mesma dizendo: "Desperta, Débora, desperta...”.



[1] Não devemos confundir essa passagem (Jz 4.5) com Gênesis 35.8, onde uma outra Débora foi sepultada debaixo de uma árvore em Betel.    
[2] F. F. Bruce, Débora. In: O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2003, p. 396.
[3] Ibidem.
[4] Fonte: www.despertadebora.com.br. Acesso em 28/09/2011.

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